ENTREVISTAS (2) promotor Laerte Levai, escritor Vallejo e Paul Roberts


Entrevistas
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Com o Promotor Laerte Levai

por Samira Menezes
Em entrevista para a Vegetarianos, o promotor Laerte Levai explica como as leis brasileiras funcionam em relação aos animais
Ele se formou em Jornalismo na década de 1980, mas foi no Direito que descobriu sua verdadeira vocação. Promotor de Justiça desde 1990, o paulistano Laerte Levai, de 47 anos,vem se dedicando a ações para acabar com a escravidão animal. Há 15 anos atuando na 4ª Promotoria de São José dos Campos, na área criminal-ambiental e tutela jurídica dos animais, Laerte afirma que se tornou vegetariano devido a uma ação pública que resultou no fechamento de um matadouro. "Até então, não tinha noção da dimensão das atrocidades cometidas contra os animais." Pai de três filhos, já lançou o livro Direitos dos Animais (Editora Mantiqueira), que, em 2008, terá nova edição com um capítulo específico sobre abolicionismo e um roteiro prático de defesa animal. Nesta entrevista, Laerte fala sobre o papel do Ministério Público em relação aos animais, expõe sua opinião sobre leis bem-estaristas e fala da necessidade de cursos sobre ética animal nas universidades.
De que maneira um promotor de Justiça pode ajudar a combater a escravidão animal?
O promotor de Justiça possui, por força de lei, a atribuição de agir em defesa dos animais. Afora os mandamentos constitucionais que garantem essa atuação, tenho ao meu alcance instrumentos jurídicos poderosos, como o inquérito civil, a ação civil pública e o termo de ajustamento de conduta. Posso também requisitar providências criminais contra os malfeitores de animais, denunciá-los e processá-los judicialmente.É fundamental que o tema relacionado aos direitos animais seja melhor trabalhado nas faculdades de Direito, permitindo que no futuro haja mais juristas sensíveis à causa.
E como o Ministério Público pode influenciar na decisão de acabar com práticas cruéis, como a vivissecção?
A tortura de animais é um fato inadmissível para quem se propõe a promover justiça. A experimentação animal reduz seres sensíveis à condição de objetos descartáveis e eticamente neutros. Como
escreveu João Epifânio Regis Lima, a prática vivisseccionista é tida como mal necessário, refletindo o paradigma antropocêntrico na medida em que define quem é sacrificável e quem não é. Fenômeno semelhante, segundo ele,ocorre em zoológicos e circos com animais que, de forma dissimulada, refletem uma ordem cultural, de caráter essencialmente dominador.Daí a necessidade do enfrentamento judicial da vivissecção, apesar da resistência da comunidade acadêmica,dos falsos mitos científicos e do viés especista decorrente de um grave erro metodológico. Cabe ao Ministério Público, como agente de transformação social, lutar contra esse estado de coisas. Para tanto, há que se incluir os animais na esfera das preocupações morais humanas, pois eles também são sujeitos de direito.
Como vê ações de grupos como a ALF, que invade laboratórios e fazendas para resgatar animais?
Como membro do Ministério Público, órgão que possui a função constitucional de zelar pela defesa da ordem jurídica, não devo compactuar com ações dessa natureza. No entanto, como cidadão comum, compreendo a atitude daqueles que se propõem a salvar animais por meios não convencionais. Entendo que a lei não deveria punir quem resgata, por exemplo, um cão doente acorrentado em uma casa; pois a intenção do sujeito, neste caso, não é a de violar o domicílio alheio e nem de furtar o animal, mas a de defender um ser vivo, agindo, portanto em estado de necessidade.
Qual a melhor forma de acabar com a escravidão animal?
A opção pelo veganismo amplia as fronteiras da ética, nos permitindo viver sem contribuir para o círculo vicioso da crueldade. Se o mundo todo fosse vegan – doce utopia – teríamos o fim da exploração animal. Precisamos repensar nossos hábitos e modo de vida, reconhecidamente cruéis e predatórios. O veganismo,que surgiu da quebra do paradigma antropocêntrico, possui uma base filosófica sólida e vem se tornando o modo mais direto e coerente de realizar o sonho abolicionista.
O filósofo e advogado Gary Francione afirma que as leis bem-estaristas só encorajam o uso dos animais. Concorda?
A crítica de Francione é coerente e subscrevo seus fundamentos. As leis bem-estaristas, que são maioria em nosso repertório legislativo, muitas vezes legitimam a exploração. Mas, por intermédio delas, obtive significativos resultados judiciais em favor de animais maltratados. Basta lembrar que consegui fechar um matadouro paulista com fundamento na Lei do Abate Humanitário, assim como um circo que utilizava animais no picadeiro,em desconformidade ao artigo 21 do Código de Proteção aos Animais. Não estou querendo dizer que essas leis sejam boas, e sim que elas funcionaram em casos concretos, resultando em um ganho significativo aos animais. Apesar disso, continuo acreditando que as mudanças de comportamentos decorrem mais da educação do que da força da lei.
Acredita que a existência de ONGs fortes como a PETA, por exemplo, faz com que o tratamento dado aos animais seja diferente nos países onde elas atuam?
Respeito o trabalho das ONGs de defesa animal, desde que sério e comprometido com o que propõem; mesmo sabendo que o dever de proteger os animais é quase sempre negligenciado pelo poder público.A PETA realiza campanhas que chamam a atenção, conseguindo comover muita gente.Porém, há denúncias de que ela faz acordos escusos com empresas exploradoras de animais, além de recorrer a estratégias publicitárias sexistas; o que não se mostra nem um pouco
ético.Quanto aos resultados dessas campanhas,eles são de eficácia duvidosa, pois diversas empresas que obtiveram o aval da PETA utilizam do sistema de criação animal nos moldes do bem-estarismo, como ovo de galinha solta,abate humanitário,dentre outras práticas que perpetuam a exploração animal.
Tem críticas em relação a grupos de bem-estar animal?
As entidades sérias têm o meu apoio, independentemente do rótulo que se possa dar a elas. Sei que várias associações protetoras são compostas por pessoas onívoras. Vejo isso a partir da minha própria trajetória de vida: aderi ao vegetarianismo somente depois de iniciar minha atuação como promotor. Meu antigo discurso bem-estarista foi sendo abandonado aos poucos, sobretudo depois que conheci o trabalho dos filósofos Tom Regan e Sônia Felipe. Tudo foi questão de tempo e de
informação,o que me permitiu aderir, enfim,à postura abolicionista.
Que fato considera uma vitória pessoal nesses anos que vem lutando pela libertação animal?
Não interpreto os resultados positivos que obtive como vitórias pessoais, e sim como uma pequena contribuição para a causa animal. Apesar de ter sido pioneiro nas ações contra matadouros, vivissecção e circos com animais, nem sempre consegui o respaldo do Judiciário. Muitos desses processos estão nos Tribunais em grau de recurso, outros refletem conquistas importantes: a proibição do uso de animais em rodeios, uma sentença que reconhece a inconstitucionalidade do abate ritual em
matadouro e a proibição do uso de animais em uma companhia circense.Outra forma de atuação decorre das teses que apresentei em congressos ambientais,sempre voltadas a um tema relacionado à proteção de animais.A mais recente, aprovada ano passado, sugere a criação de uma Promotoria de Defesa Animal, em São Paulo.
Existem várias formas de maus-tratos aos animais. Como a Justiça lida com essa questão?
A idéia de que os animais são bens sobre os quais incide a ação humana ainda prevalece no âmbito da Justiça. Isso decorre da concepção antropocêntrica e especista do Direito, cujo maior erro é considerar seres sencientes como objetos de uso e exploração. Considero os animais como sujeitos de direito e sob esta ótica é que venho atuando. Somente quando a perspectiva do direito ambiental tornar-se biocêntrica é que os animais poderão ter reconhecidos seus direitos. Em termos
práticos, já denunciei criminalmente inúmeros malfeitores de animais,obtendo condenações pecuniárias ou transações penais em favor de entidades de proteção animal. É preciso lembrar, porém, que a pena prevista àqueles que maltratam animais desanima: o artigo 32 da Lei 9.605/98, principal dispositivo penal a tratar do assunto, é tido como conduta de menor potencial ofensivo e, por isso, não leva ninguém à prisão.
Se a sociedade faz distinção entre as espécies que "pode comer" daquelas usadas como estimação, então é possível concluir que não há muitas denúncias de abuso animal, certo?
Em São José dos Campos há dezenas de procedimentos sobre crueldade contra animais, sendo que a maioria versa sobre confinamento ou abandono de cães. Depois vêm os casos de envenenamento por chumbinho,principal mente de gatos, e os abusos sobre cavalos utilizados em serviços
de tração, todos com problemas crônicos. Isso sem falar no extermínio de animais no CCZ e jardim zoológico, comercializaçã o nas lojas pets, festival de pesca e matança em rituais de candomblé. Os rodeios que ocorriam no Vale Fest conseguimos impedir a partir de 2004, depois de intentar várias ações judiciais.Com relação à distinção entre as espécies, não há como negar que a sociedade age com especismo elitista,o que não deixa de ser um paradoxo:enquanto afaga um, come outro.
Por que a Lei não proíbe atividades como o rodeio, mas condena o tráfico de animais silvestres, por exemplo?
Isso tudo decorre da atividade do Poder Legislativo. Vigora em nosso País uma lei bem-estarista que regulamenta o rodeio e outra que atribui ao peão a condição de atleta profissional. De outra parte,os legisladores definiram como crime o tráfico de animais silvestres.Tal incoerência acontece porque o Direito enxerga a fauna como bem ambiental e, via de regra, desconsidera o sofrimento dos animais domésticos, especialmente aqueles destinados à alimentação humana. Sob o ponto de vista ético, não existe diferença alguma entre os animais.A tutela jurídica deve alcançar todos os seres sencientes submetidos a abusos, maus tratos, ferimentos ou mutilações,porque nossa Constituição Federal, no artigo 225 par. 1º, inciso VII,veda as práticas que submetam os animais à crueldade.
Existe um Código de Proteção Animal, certo? Ele funciona na prática?
O Código de Proteção Animal, representado pela Lei paulista 11.977/05, está em vigor em parte porque inúmeros artigos tiveram sua eficácia suspensa por força de decisão liminar em Ação Direta de Inconstitucionalida de (ADIN) concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em favor da Federação da Agricultura. Há outra ADIN proposta perante o Supremo Tribunal Federal, ainda sem decisão final, que busca o reconhecimento da inconstitucionalida de de todo o texto.Fica difícil,portanto, fazer uso efetivo de uma lei mutilada. Diante de situações concretas de crueldade para com animais,é melhor evocar sempre a Constituição Federal de 1988 e a Lei dos Crimes Ambientais.
Falta diálogo entre as ONGs de proteção e libertação animal e os membros do governo e do Ministério Público?
Sim. É preciso dizer que o tema dos direitos animais está deixando de ser um tabu.Lembro- me que há 20 anos o movimento de proteção animal no Brasil estava restrito a algumas poucas pessoa devotadas, existindo raras obras jurídicas disponíveis.O advento dos livros sobre direito dos animais,a partir de 2000,somado ao fácil acesso à internet,permitiu que essas questões fossem conhecidas mais a fundo. Acho importante o diálogo entre as partes interessadas, o que não significa fazer concessões duvidosas. Há diversas formas válidas para debater o assunto: palestras, reuniões, simpósios, congressos, audiências públicas ou cursos de especialização. Falando nisso, acho que já é hora de alguma universidade brasileira introduzir, no currículo acadêmico, eventual disciplina que verse sobre Ética e Direito.
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Entrevista com o escritor colombiano Vallejo, que estará no Brasil:

“Não pode haver religião nem moral que me façam aceitar o ato da reprodução. Tirar a paz de alguém que está no nada e trazê-lo ao horror da vida é um crime máximo. Há ainda aquele fato que, dizem, nunca ocorreu a 'Cristolouco': que os animais (para mim, seres de sistema nervoso complexo, como as vacas e os porcos, que esfaqueamos nos matadouros para comê-los, e que sofrem e sentem sede, fome, terror e tédio, como todos nós) são também próximos de mim, não apenas os seres humanos"
Texto completo abaixo:

Vallejo, uma prosa feroz e corrosiva

Escritor colombiano é um dos principais convidados da próxima edição
da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que acontece em
julho

Ubiratan Brasil
Agência Estado

O escritor colombiano Fernando Vallejo é descrito como um homem inofensivo, olhar tranqüilo, voz musicada, gestos suaves. Basta abrir qualquer página de seus livros ou questioná-lo sobre determinados assuntos, porém, que se descobre uma prosa feroz, raivosa, corrosiva.
Aos 65 anos, Vallejo arregala os olhos de quem o lê ou escuta ao comentar sobre a Igreja Católica ("Inquisidora, torturadora,
falsificadora, homofóbica..." e outros adjetivos do gênero), o papa ("Besta vaticana"), a Colômbia ("Lá, até os mortos têm cédula de identidade e votam") e até de colegas famosos ("García Márquez é uma cortesã de Fidel Castro").
Um dos principais convidados da próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que ocorre em julho, Vallejo vai comentar "O Despenhadeiro", que a editora Alfaguara já lança nesta segunda-feira (19), com competente tradução de Bernardo Ajzenberg (176 páginas, R$ 28,90). Como boa parte de sua obra, trata-se de um relato
autobiográfico, sem disfarces ao retratar um ódio escancarado pela sociedade, especialmente a colombiana.
Nascido em Medellín, Vallejo conheceu a degradação da cidade pelo tráfico de drogas. É justamente essa cidade devastada pelos entorpecentes e pela juventude amoral que o escritor retratou em "A Virgem dos Sicários", seu primeiro romance lançado no Brasil, povoado de pobres, drogados, mendigos impertinentes e grávidas que só pensam em parir e rezar.
Em "O Despenhadeiro", a acidez e o sarcasmo continuam na história do homem que volta à casa onde viveu, na Colômbia, local marcado pelo adoecimento das pessoas que realmente lhe interessam, como o pai, um político, e o irmão Dario, com quem compartilhou intensas experiências na juventude.
A ferocidade de Vallejo aparece na forma como o narrador descreve as outras pessoas da família, como a mãe ("A Louca") e o irmão caçula ("Aborto da Natureza"). Indiferente aos críticos que apontam sua iconoclastia como oportunista, Vallejo, que vive no México desde 1971, tal qual um pugilista, não baixa a guarda.
O despeito pela religião católica é só o fio da meada para Vallejo desfiar uma série de provocações, como na entrevista a seguir e em outras, nas quais não poupa suas farpas.
Agência Estado: O senhor esperava que "O Despenhadeiro" fosse uma alegoria premonitória em relação à América Latina?
Fernando Vallejo - A verdade é que não acredito que esse livro seja uma alegoria ou a premonição de algo. O que talvez possa ser um retrato do desastre que são a Colômbia onde nasci e cresci e o México, onde hoje vivo, ou do desastre da América Latina em geral, está em outro livro que escrevi, "A Virgem dos Sicários".
AE:No livro, a internet é tratada como uma epidemia, semelhante à aids. Por que essa prevenção contra a internet?
Vallejo - Quando escrevi "O Despenhadeiro", a internet estava
iniciando. Hoje, é uma mescla de informações úteis com lixo repetido e reciclado. A aids, por outro lado, não serviu para nada: diminuiu, por via das dúvidas, em 20 milhões a população mundial. Minha esperança é o vírus Ebola. Esse, sim, vai animar um pouco essa festa.
AE:Outro sentimento que o livro transmite é o de que o passado sempre foi melhor que presente. Por quê? Sua história pessoal foi determinante para isso?
Vallejo - Não, o passado nunca foi melhor que o presente: os dias atuais provocam um horror distinto, um velho horror com nova cara.
AE:Aliás, até que ponto "O Despenhadeiro" tem vestígios
autobiográficos?
Vallejo - Tudo o que é narrado no livro é estritamente verdadeiro. O que digo ali aconteceu de fato.
AE:Um crítico escreveu que "nem uma só ponta de respeito de
intelectual - menos ainda de comiseração - existe na alma, no
pensamento ou na obra de Fernando Vallejo quando se trata de analisar o que ele chama de os horrores atuais e presentes da Igreja católica no mundo". Qual a origem desse enfrentamento contra a Igreja?
Vallejo - O cristianismo não é uma religião, mas uma empresa criminal.
E assim tem sido desde que a seita cristã que chamou a si mesma de católica, ou seja, universal, pegou carona no triunfo do imperador Constantino (um genocida que, no ano 312, exterminou uma dezena de outras seitas cristãs e de outros cultos e feitiçarias do Império Romano) para então se atribuir a função de única detentora da verdade e da moral.
Os 1.700 anos que se seguiram foram plenos de crimes e infâmias: as oito cruzadas contra os muçulmanos que banharam de sangue a Terra Santa; as cruzadas dos papas contra os próprios correligionários cristãos que se atreveram a discordar do autocrata de Roma, ou seja, os albigenses, os valdenses, os apostólicos, os fraticelli, os begardos, os camisardes..
Os horrores das Inquisições católica e protestante: a queima de hereges e bruxas que perdurou durante sete séculos, desde 1200. A noite de São Bartolomeu, a destruição das culturas indígenas da América, a oposição à ciência e à liberdade de pensamento e de imprensa, as guerras da Reforma e da Contra-reforma, etc., etc., etc.
Não há civilização cristã: há barbárie cristã. Fabulação, mentira,falsificação, hipocrisia, engano, derramamento de sangue...
AE:Até que ponto seu ateísmo está muito marcado pela religiosidade?
Vallejo - Não pode haver religião nem moral que me façam aceitar o ato da reprodução. Tirar a paz de alguém que está no nada e trazê-lo ao horror da vida é um crime máximo. Há ainda aquele fato que, dizem, nunca ocorreu a 'Cristolouco': que os animais (para mim, seres de sistema nervoso complexo, como as vacas e os porcos, que esfaqueamos nos matadouros para comê-los, e que sofrem e sentem sede, fome, terror
e tédio, como todos nós) são também próximos de mim, não apenas os seres humanos.
AE:Como explicar, então, a longa sobrevivência de uma instituição tão
profundamente corrupta e inclusive criminosa como a Igreja católica?
Vallejo - Graças à sua aliança ilícita e prostituída com todos os poderosos da História: desde Constantino e Justiniano, passando por Carlos Magno e Carlos 5º até Hitler, Mussolini e Franco, e ainda todos os espertalhões com poder nos países do atual Ocidente.
AE:Há algum perigo de sua prosa, muito feroz, ter um efeito contrário, ou seja, não provocar como pretende?
Vallejo - Nunca pretendi provocar ninguém - gosto mesmo é de importunar os hipócritas.
AE:O senhor não esconde seu desprezo por Gabriel García Márquez. Por quê?
Vallejo - Trata-se de um cortesão de Fidel Castro, o tirano de Cuba e
o ser mais vil surgido na América. Também é romancista da terceira
pessoa (recurso mais utilizado na literatura) que escreve uma prosa de cozinha.
AE:Diversos escritores criaram uma obra em que insultam seu próprio
país. O que o faz escrever contra sua Colômbia?
Vallejo - Não escrevo contra a Colômbia: somente a retrato.
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=317212
fonte:




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Entrevista com Paul Roberts

Em 2050 seremos todos vegetarianos
(by Cob, published 2008-06-15 22:31:14)








Peter Moon
Data: 16/06/2008
Veículo: ÉPOCA
Editoria: ENTREVISTA
Jornalista(s) : Peter Moon
Assunto principal: AMAZÔNIA
Em 2050, seremos todos vegetarianos
No Ensaio Sobre O Princípio Da População, publicado em 1798, o inglês Thomas Malthus fez uma afirmação alarmante. Como a população humana crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética, no longo prazo o saldo desse descompasso seriam a fome e o aumento da mortalidade, ajustando o tamanho da população à oferta de alimento. Em 1800, havia 1 bilhão de humanos. Hoje, somos 6,6 bilhões. A produção agrícola superou a explosão populacional. Malthus estava errado? Para o jornalista americano Paul Roberts, de 54 anos, talvez não. A hora de Malthus pode ter chegado. Em The End of Food (O Fim da Comida, editora Houghton Mifflin), Roberts prevê que, até 2050, a demanda por comida ultrapassará a oferta. Um primeiro alerta seria a atual explosão do preço dos alimentos.
ENTREVISTA - PAUL ROBERTS
QUEM É
Jornalista especializado em economia, tecnologia e meio ambiente. Tem 54 anos
O QUE FEZ
Colaborou com a revista Harper"s Magazine e com os jornais Los Angeles Times, The Washington Post e The Guardian (de Londres), entre outros
O QUE PUBLICOU
The End of Oil (O Fim do Petróleo, 2004);
The End of Food (O Fim da Comida, 2008)
A tonelada de arroz passou de US$ 400 para US$ 1.000 em cinco meses. No Brasil, o feijão subiu 168,44% em 12 meses. A culpa, para os analistas, é de chineses e indianos, que estão ganhando mais e comendo mais. Em 2030, a China importará 200 milhões de toneladas de grãos, ou seja, todo o excedente exportável mundial. O que sobrará para os países pobres? Se nada for feito, a fome.
ÉPOCA - Malthus estava certo?
- Paul Roberts - Após 200 anos, é cada vez mais difícil dizer "não" a essa pergunta. Continuamos desenvolvendo novas tecnologias para produzir mais comida, mas enfrentamos novas restrições que os fazendeiros do passado não tinham. Historicamente, a forma de aumentar a produção era expandir a área plantada. Isso é cada vez mais difícil. A maioria das terras aráveis do planeta já é usada e a maior parte do que resta são as últimas florestas. É o caso do Brasil, onde as novas áreas de plantio são obtidas à custa da derrubada de florestas.

ÉPOCA - É hora de outra Revolução Verde?
Roberts - A Primeira Revolução Verde, que transformou a agricultura entre os anos 40 e 60, multiplicou a produção de alimentos graças ao uso de fertilizantes e ao desenvolvimento de novas sementes. Ainda é possível aumentar a produtividade usando os transgênicos. Mas essa tecnologia tem seus limites. Não podemos também esquecer que o preço da energia está subindo e que a agricultura moderna foi pensada no tempo em que o barril de petróleo custava US$ 20. Caso o preço se estabilize entre US$ 125 e US$ 200, o sistema atual não se sustenta.

ÉPOCA - O que fazer?
Roberts - Há três grandes desafios para criar uma Segunda Revolução Verde. O primeiro é o aumento do preço do gás natural, o principal insumo na produção de nitrogênio sintético, que por sua vez é o maior insumo dos fertilizantes. A maior parte do excedente agrícola atual se deve à disponibilidade de nitrogênio barato. Se o preço dos fertilizantes se mantiver elevado, alimentar daqui a 50 anos outros 4 bilhões de pessoas, além dos 6,6 bilhões atuais, será um tremendo desafio. É preciso alternativas para produzir novos fertilizantes.
ÉPOCA - O segundo desafio é...
Roberts - A falta d’água. Para isso não existe alternativa. Não há continente onde não falte água. Cada país responde ao desafio de forma diferente. A China está substituindo a produção de grãos, que usa irrigação maciça, pela de frutas e verduras, que consome menos água. Em 2007, importou 30 milhões de toneladas de soja, boa parte oriunda do Brasil. Isso significa que a China está importando de vocês sua água. Está ocorrendo uma mudança no "mercado virtual" de água. Por algum tempo, isso deve contrabalançar a escassez. Mas, no fim das contas, não existe água suficiente no mundo para atender ao aumento projetado na demanda de alimentos.
ÉPOCA - E o terceiro?
Roberts - O último é o maior de todos: as mudanças climáticas. Elas vão dificultar o aumento na produção de comida e acentuar a escassez de água. A alteração do clima também será um desafio para que grandes exportadores, como os Estados Unidos e o Canadá, consigam elevar sua produção. Os desafios são complexos e as respostas para eles também. Será preciso reduzir o uso de energia e de água na agricultura, ao mesmo tempo em que se elevam a eficiência e a produtividade. Porém, isso não será o bastante. Seremos obrigados a comer menos.

ÉPOCA - A Terra pode alimentar 2,5 bilhões de bocas com uma dieta ocidental, rica em carne, ou 20 bilhões de vegetarianos. Mas somos 6,6 bilhões...
Roberts - A pecuária e a avicultura consomem grande parte da produção de grãos. Tome o exemplo dos Estados Unidos, com um consumo anual per capita de 100 quilos de carne, comparado ao da Índia, com 15 quilos. É preciso elevar o consumo da Índia e desencorajar o consumo nos Estados Unidos e na Europa, para tentar atingir uma média global de consumo mais justa e sustentável.
ÉPOCA - Isso não é utopia?
Roberts - É preciso reduzir o consumo de carne. A questão é como fazê-lo. Nos Estados Unidos não se toca no assunto. Achamos que comer carne é um direito eterno. Seu consumo é considerado um índice de prosperidade - apesar dos problemas de saúde, como doenças cardíacas, que seu consumo acarreta.
ÉPOCA - No Brasil, é a mesma coisa.
Roberts - O Brasil está se desenvolvendo, e a lógica pressupõe que num país bem-sucedido come-se tanta carne quanto se deseja. Para inverter essa lógica, é preciso um líder corajoso e habilidoso. Essa não é uma prioridade dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Cedo ou tarde, essa discussão terá de ser atacada.
"Como dizer a 1,3 bilhão de chineses que eles devem comer menos
carne, se isso tem sido um objetivo humano por milhares de anos?"
ÉPOCA - Barack Obama e John McCain têm opinião a respeito?
Roberts - Não sei. Não é uma questão que eles levantariam na campanha. Não soaria como algo patriótico.

ÉPOCA - O aumento do preço da comida ameaça elevar em 100 milhões o total de 862 milhões de famintos no planeta. Mas há 1 bilhão de pessoas com sobrepeso. O problema da humanidade é a fome ou o diabetes?
Roberts - Ambos são problemas. Se fosse forçado a escolher, priorizaria a subnutrição, pois ela mata as pessoas muito mais cedo, e sua solução contribuiria para a estabilidade do clima. Dito isso, se fracassarmos em lidar com a questão da obesidade, no longo prazo pagaremos um enorme preço na forma de despesas médicas. Por 200 mil anos, a espécie humana teve sua dieta restrita pela disponibilidade ou não de alimento. A invenção da agricultura, há 10 mil anos, mudou esse padrão. A obesidade é conseqüência do acesso a uma alimentação farta e barata. Para manter uma dieta saudável, é preciso disciplina, e nós não fomos biologicamente projetados para controlar nossa gula.
ÉPOCA - O Brasil será o celeiro do mundo à custa da destruição da Amazônia?
Roberts - Apesar de conhecermos as conseqüências científicas e ambientais da rápida expansão da agricultura, somos incapazes de resistir à pressão política e econômica. Na imprensa econômica americana, o Brasil é retratado como uma história de sucesso. O país será uma superpotência na produção de alimentos. No entanto, quando olhamos as publicações científicas, o Brasil é retratado em termos muito negativos. A lógica gira em torno do fato de a população chinesa ganhar hoje o suficiente para comer carne, o que leva à destruição das florestas no Brasil. A questão fundamental é: como dizer a 1,3 bilhão de chineses que eles devem comer menos carne, se comer carne tem sido um objetivo humano por milhares de anos?
ÉPOCA - Seu livro anterior se chamava O Fim do Petróleo. O atual é O Fim da Comida. Qual será o próximo, o fim da água? O fim da natureza? O fim da esperança?
Roberts - (Risos.) Vou trabalhar num livro sobre as finanças globais, outro desastre. O mercado financeiro é a chave de tudo. Nada do que conversamos como a conversão de florestas em área de cultivo no Brasil, pode acontecer sem a ajuda dos mercados financeiros. Eles estão em crise. São uma faca de dois gumes que é preciso entender melhor.
ÉPOCA - O senhor é otimista com o futuro?
Roberts - Acho que sou. Ao dissecar a questão da escassez de recursos, aprendi como as coisas podem se tornar ruins. Eu sei qual é o pior cenário possível se não alterarmos a rota na qual caminhamos. Com isso em mente, acredito que qualquer mudança será para melhor. É muito fácil ser pessimista, mas isso não faria o menor sentido. A humanidade sempre conviveu com a escassez. Essa é a condição humana.
Fonte: http://www.linearclipping.com.br/
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Entrevista com o economista Jeremy Rifkin, Presidente da Fundación de Tendencias Económicas.
"Estamos destruyendo el Amazonas para alimentar vacas"
El País

http://www.animanaturalis.org/post/8029

27/06/2008
Jeremy Rifkin es un economista de 65 años. Asesoró a Al Gore sobre economía y ecología durante la Administración de Bill Clinton. Una reconocida voz que desde hace años no se siente escuchada. Afirma con rotundidad que comer demasiadas vacas está calentando la Tierra. Ha estado en Madrid en la conferencia Crisis alimentaria: problemas y posibles soluciones, organizada por el PSOE. Contó a José Luis Rodríguez Zapatero, y a Robert Watson, el director de la ONU para Agricultura y desarrollo científico (IAASTD), su particular verdad incómoda. "Es como si tuviéramos una vaca en el salón de casa y nadie quisiera mirarla".
¿Qué daño están haciendo las vacas al calentamiento global?
La industria de la carne es la segunda causa del calentamiento del planeta. Siempre se habla del efecto de la construcción de edificios y del consumo que hacemos en ellos. Por supuesto, se habla del transporte, pero nunca se habla de la industria de la carne. Pues bien: el consumo en edificios es la primera causa; la industria de la carne, la segunda, y el transporte, la tercera.
¿Producen las vacas emisiones?
Sí, de metano, producido por sus flatulencias; de CO2, el que se genera para que ellas coman y el transporte de su carne a los mercados. Estamos destruyendo el Amazonas para alimentarlas. Hay que producir 900 kilogramos de comida para obtener un kilogramo de carne.
¿Cómo se explica este desequilibrio?
Hay que tener en cuenta que hay una relación entre los crecientes precios de la energía, los costes de la comida y el cambio climático. La ONU ha hecho un informe llamado Feed versus food [Forraje frente a comida] en el que se concluía que el 39% de los campos del mundo se utiliza para animales. Otro 47% es alimento para las personas. El otro 15% es para productos industriales. Estamos utilizando el campo para alimentar a los animales cuando hay 2.700 millones de personas que gastan más de la mitad de su dinero en comida.
¿Qué propone entonces?
Deberíamos empezar a pensar en gravar con impuestos la producción de alimentos para ganado y animar a producir comida para hombres. Igual que hemos puesto límite al dióxido de carbono, tenemos que frenar el consumo de carne.
Pero los granjeros tienen que ganarse la vida.
Por supuesto. Éste es un tema que quiero que quede claro. Hay que hacer la transición de manera que no afecte a los granjeros. Por eso son tan importantes los incentivos para el cultivo de alimentos para personas.
Esta teoría la hizo usted pública a principios de los noventa con su libro Beyond the beef [Más allá de la carne]. ¿Por qué nadie le hace caso?
Sí, es una historia vieja. Es muy triste que ni siquiera un líder mundial se haya preocupado de ello. Sólo hay dos personas que estamos hablando de ello. Rajendra Pachauri [el presidente del Panel Internacional del Cambio Climático y Premio Nobel de la Paz en 2007 junto con Al Gore] y yo. Ah, y Paul McCartney, que está muy involucrado y ha propuesto el lunes verde para que el primer día de la semana todo el mundo haga dieta vegetariana.
¿Por qué están tan solos?
Porque concierne a la industria global de la ganadería y habría que cambiar los hábitos de la gente. Fíjese que precisamente su dieta, la mediterránea, que se basa en tomar grandes cantidades de fruta y verdura y muy poca de carne, es perfecta. El problema es que en países como el mío se consumen cantidades de carne inadmisibles. Tomamos incluso más proteínas de las que podemos digerir.
¿Usted come carne?
No. Se puede decir que soy vegetariano al 95%. Empecé en 1977, pero bebo leche y tomo un poco de pescado.


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