ENTREVISTAS (3)

Entrevistas
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Sr. Marcos: aposentado que faz trabalho de alimentação e vacinação anticoncepcional em alguns bairros menos favorecidos de Joaçaba.
Sr. Theodorico Fernandes: médico-veterinário aposentado que abriga 95 cães e 11 gatos e tem feito muito por animais abandonados.
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Sr. Marcos
Chegamos à casa do Sr. Marcos às 17h, em um domingo à tarde. Fomos logo para o bairro Nossa Senhora de Lourdes onde o Sr. Marcos fez a vacinação de 6 cadelas e já agendou mais vacinações. O pessoal lá já o conhece e a cada momento chegava mais uma pessoa com uma cachorrinha nos braços para vacinar. O trabalho de Sr. Marcos abrange os bairros: Jardim das Hortênsias, Jardim Lindóia, Vila Remor e Nossa Senhora de Lourdes. Não é possível vacinar todos os animais destes bairros, mas ele tem o controle de aproximadamente 50 animais,os quais vacina a cada seis meses.
Sr. Marcos, na sua moto, que é como faz as
visitas aos animais.
Com certeza Sr. Marcos desenvolve um trabalho que traz resultados. Se considerarmos duas crias por ano e média de 5 filhotes para cada cadela gestante, então já seriam menos 500 animaizinhos que estariam perambulando por aí em apenas 1 ano! Não adianta deixar animais nascerem se for para viverem por aí famintos, machucados e maltratados. O Sr. Marcos acredita que em 3 ou 4 anos já serão visíveis os frutos de seu trabalho. Veja a seguir alguns trechos da entrevista que foi efetuada entre uma vacina e outra.
Sr. Marcos, preparando uma dose de anticoncepcional para a cadelinha deste menino.
P.A.: Há quanto tempo o Sr. começou o trabalho com os animais?
SR. Marcos: Já faz mais de 8 anos! É um trabalho diário de seis horas de dedicação. Pesquiso preços de vacinas mais baratas, passo nos restaurantes pego comida, depois em casa faço a seleção e mistura dos alimentos e tenho que levar aos animais. Tenho também um caderninho no qual mantenho atualizadas as datas das vacinações, o endereço, nome do proprietário e do animal vacinado.
P.A.: Qual o foco principal de seu trabalho?
SR. Marcos: Vacinação anticoncepcional. Mas também tem 38 animais que estão "debaixo de minhas asas" . São animais que estavam maltratados, desnutridos, doentes e amarrados em tocos de corda. Fiz acordo com os proprietários, dou alimentação, instalei fios compridos e comprei corrente e coleiras para dar melhor condições para estes cães. Hoje estão gordinhos, bem de saúde e sempre retribuem com muito carinho quando chego.
P.A.: O senhor já tem visto resultados?
SR. Marcos: Sim. Até mesmo o Theodorico que sabe há anos como é o abandono de animais, me disse ter notado que tem diminuído muito o número de filhotes abandonados que eram vistos pela cidade.
P.A.: Nas visitas que o senhor faz por estes bairros o senhor conhece muitas famílias que têm animais. Qual é a situação desses animais?
SR. Marcos: Realmente todos nesses bairros tem até mais de um animal. Mas no geral a situação não é tão desesperadora. O que ocorre são alguns casos isolados de extrema crueldade com os animais. Sito o exemplo de um pastor alemão que me avisaram que estava doente. Fui até lá e ele nem saía debaixo de um eternite improvisado que era sua casinha. Pedi ao dono que o tirasse para fora e ele me disse que era câncer e que não adiantava vê-lo. Pois o cão tinha uma enorme bicheira em cada lado das costelas. Todos os dias subi lá, passei mata-bicheira e comecei alimentá-lo corretamente. Um mês depois disso o dono foi embora e deixou este cão sozinho. Quis saber como uma pessoa dessa conseguiu um cão de raça. Descobri que ele tinha ganho de um vizinho, falei com este vizinho e ele disse que ganhou de um casal da classe média que morava perto do DNR. Ameacei falar com o casal, então este cidadão se prontificou a cuidar direito do cão. De fato agora o cão tem uma casinha e está amarrado com coleira e corrente e tem um fio para poder ir mais longe. Mas continuo de olho.
P.A.: O senhor tem conhecimento de algum caso de abandono de animais em nossa cidade?
SR. Marcos: É muito comum as pessoas da classe média comprar animais de estimação para seus filhos, pois pensam que é fácil ter um cãozinho. Quando estes começam a fazer xixi no tapete, cocô fora do lugar, cavoucar o jardim, derrubar vasos e latir muito, elas simplesmente dão de "presente" para suas empregadas domésticas, que muitas vezes não querem dizer não para a patroa. E estes cãezinhos, depois de ter uma vida com muitas regalias, passam a viver nas periferias da cidade, sem banho, sem vacinações e muitas vezes sem alimentação correta. Muitos morrem de tristeza, outros de doença ou maus tratos. Os que sobrevivem tem uma vida muito precária. Tem o caso de um Poodle que veio da cidade e agora mora nos fundos do lote amarrado com corda de varal, tem bicho de pé, pulgas. Seus pêlos estão enosados e do branco do pêlo, só resta o marrom da sujeira. Com certeza se a antiga dona dele o visse hoje, não conseguiria dormir de noite. As pessoas passam os animais para a frente, se esquecem que são Vidas! Pensam que serão bem cuidados, na maioria das vezes não é bem assim que acontece.
P.A.: Na sua opinião, porquê as pessoas abandonam seus animais?
SR. Marcos: Na cidade, é o mesmo caso acima. Na periferia os pais não tem dinheiro para comprar brinquedos e vão arrumando cãezinhos. Estes vão se multiplicando, e vão sendo espalhados por outros bairros e assim vai. Também tem o caso de pessoas que no inverno arrumam um cão para cuidar da pilha de lenha. Amarram o cão lá na pilha para "espantar" ladrões. O inverno vai embora, a lenha se acaba e o cão é solto em algum bairro mais longe. São muitas pessoas sem sentimentos nem respeito pela vida desses animais e quase nenhuma pessoa para lutar contra isso, então o problema vai aumentando.
P.A.: O senhor tem recebido ajuda da prefeitura, empresas ou pessoas que simpatizam com os animais?
SR. Marcos: Estive na prefeitura por duas vezes para conseguir as vacinas. Assisti a duas reuniões de vereadores que prometeram doar 100 vacinas, no entanto nunca recebi nada. Ganhei uma caixa de vacinas de uma empresa que tem ajudado bastante os animais e consegui fazer as vacinações do mês graças a ela. Existe na cidade pessoas que gostam de animais, mas as que fazem alguma coisa dá para contar nos dedos. Também não procurei mais patrocínios, pois as pessoas em vez de ajudar, acabam me dando muito mais serviço e infelizmente não posso dar conta de tudo sozinho. Ajuda mesmo seria receber as vacinas e contar com mais voluntários para visitar outros bairros.
P.A.: O que cada cidadão joaçabense poderia fazer pelos animais que fazem parte de nossa cidade?
SR. Marcos: Poderia ser reunido vários voluntários, dividir regiões e cada grupo cuidar da vacinação de sua região, controlando as datas das vacinas. Em uma tarde de sábado, por exemplo, dá para efetuar várias vacinas. Seria necessário fazer parcerias e conseguir anticoncepcionais a preço de custo. Com mais voluntários a diminuição da natalidade seria notada por todos.
Veja as fotos tiradas no bairro Nossa Senhora de Lourdes:

Os primeiros a chegar!
Dona Francisca com sua cachorrinha já vacinada

Esta cachorrinha teve a vacinação agendada
para mais tarde, pois já pode ter cruzado.
Mais uma missão cumprida!

Esta cachorrinha também foi vacinada.
Este é um machinho muito querido,
que acompanhou tudo de pertinho!
Entrevista realizada em 14 de setembro de2003.
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Sr. Theodorico Fernandes
Chegamos na casa de Sr. Theodorico Fernandes num sábado à tarde, a fim de sabermos mais sobre animais abandonados. Logo na entrada já o encontramos com baldes de água para encher o potinho de cada cão. Nos dias quentes este trabalho dobra e o Sr. Theodorico se desdobra para conseguir dar conta da tarefa. É no sábado à tarde o único dia em que um único voluntário o ajuda em todas as tarefas com os cães, todos os outros dias ele mesmo, com seus quase 80 anos, tenta dar conta do recado, tarefa cada vez mais difícil.
Theodorico com os mais pequeninos da turma
Desde menino Theodorico Fernandes já é protetor de animais. Se formou em medicina veterinária em Curitiba/PR. Há muito tempo reside em Joaçaba/SC e está aposentado. Sua história com estes seres abandonados é de muita luta, amor e respeito, como podemos ver, mesmo que resumidamente, nos trechos que seguem:
Reconhecimento total de sua dedicação
P. A.: Atualmente quantos animais são abrigados no Santuário Irmã Henriqueta?
Sr. Theodorico: Cuidamos aqui de 93 cães e 11 gatos. Muitos chegaram aqui doentes, prenhes, machucados, com perna quebrada, atropelados, etc. Somente com muita dedicação conseguimos recuperá-los. No entanto seria bom se tivéssemos mais pessoas dispostas a sacrifícios assim para ajudar outros animais.
P. A.: Qual a quantidade de ração gasta por mês?
Sr. Theodorico: 750 Kg de ração para cães e aproximadamente 50 Kg de ração para gatos, sem falar em medicamentos.
P. A.: O Senhor recebe alguma ajuda da prefeitura ou de particulares?
Sr. Theodorico: Algumas empresas e pessoas de bom coração nos ajudam com a alimentação. A prefeitura não nos ajuda, mas também não a procuramos pois sabemos de casos em Curitiba/PR que quando a prefeitura começou a ajudar, as pessoas se sentiram no direito de levar mais e mais animais para estes lugares. Não é isso que queremos e nem podemos fazer. Já estamos no limite de nossa capacidade e até mesmo de nossa própria saúde para atender mais animais. Gostaríamos que mais pessoas despertassem para este gesto de bondade e caridade para com os animais abandonados.
P. A.: Os animais que estão no abrigo estão disponíveis para doação?
Sr. Theodorico: Somente entrego um animal se tenho certeza que esta pessoa está realmente preparada para cuidar dele, não vai abandoná-lo mais tarde. Tem muitos animais que estão pelas ruas precisando muito de um lar e de uma oportunidade para viver melhor.
P. A.: O que o Senhor acha sobre programas de castração? Os animais daqui são castrados?
Sr. Theodorico: Sou a favor da castração. Quando ainda podia, castrava meus animais. Hoje é dada vacina a cada seis meses para 60 cadelas e mais 5 gatas. A castração seria muito melhor, pois a vacinação dá muitas despesas. Bom seria se meus colegas veterinários pudessem me ajudar castrando algum animal.
P. A.: O senhor conhece em nossa região outras pessoas que são protetores?
Sr. Theodorico: Conheço duas meninas - Renata e Roberta. Elas cuidam de 16 cachorros e 5 gatos e também abriram mão de muita coisa para poder ajudar um pouco mais estes animais. Também tem o Marcos que distribui vacina anticoncepcional para cadelas e gatas em bairros menos favorecidos como o Jardim das Hortênsias. Mesmo assim precisamos de muito mais pessoas trabalhando em favor dos animais. Este trabalho (Portal Animal) que vocês estão começando também vai ajudar mais animais.
P. A.: Se encontrarmos um animal na rua atropelado ou machucado o que devemos fazer?
Sr. Theodorico: Fazer a nossa parte! Em primeiro lugar socorrê-lo levando-o a uma clínica veterinária. Depois levá-lo para casa dar todo atendimento e carinho que este animal merece. Lembrar sempre: "Cristão sem espírito de sacrifício é lâmpada apagada."
P. A.: O que podemos fazer para ajudar neste trabalho?
Sr. Theodorico: Estamos conseguindo cuidar de nossos cães e gatos. Seria bom se as pessoas entendessem que não podemos mais receber animais e não tentassem nos entregar até mesmo cães de raça. Também gostaríamos que as pessoas dessem uma atenção especial aos animais que continuam abandonados em nossa cidade. E principalmente a questão da castração. A melhor ajuda seria se mais e mais animais pudessem ser castrados evitando mais abandonos.
"As belas ações são frases de luz endereçadas a toda a humanidade. Realizar as pequeninas ações de bondade na terra para receber as grandes no céu"


Theodorico com o cão Hélio. Cão que foi de Hélio Frank, grande defensor da natureza que já nos deixou.

Gordinha em frete a sua casinha.
Ao lado, Magrão, que agora já é bem gordinho.


"Fantasma da Ópera", como é carinhosamente
chamado por um dos filhos de seu Theodorico.
Estes já estão com água fresquinha.


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